Vocês levantam na manhã seguinte, afundados no templo de destruição da noite passada. Os copos arremessados às paredes ontem de noite estão destroçados como blocos de gelo no canto do quarto, enquanto tudo cheira a depressão e um sentimento de dependência tóxica. Vocês se lembram dos gritos, e lembram-se das ofensas que foram cuspidas como veneno por suas bocas, desejando machucar, mas ao mesmo tempo visando curar todo o passado perturbado que os arrastaram até aqui, até essa distopia.
Mas nem sempre foi assim, essa teia de seda que os estrangulam com cada respiro. Havia magia, havia esperança e uma paixão honesta e ardente, perdida na neblina dos seus corações.
Começou com um sorriso, com um “oi” tímido e inocente. Um amor de filme onde os olhos se encontram e o sentimento se entrelaça nos seus olhares distantes, lhes dando a tão ansiada fantasia de ser compreendido e amado por ser quem você é, por sua essência. E até então, o romance shakespeariano se desdobra em ambos os seus sonhos idealizados.
Até que um dia, algo rasga o véu da vida perfeita que haviam planejado, gerando frustração em ambos. Um sentimento latente que está justo sob a superfície da água escura como a noite, começa a emergir. O que era amor e paixão se transforma em frustração e ressentimento, chegando ao patamar de se acomodarem com um Inferno familiar ao invés de perderem essa ilusão de segurança e falso conforto. E aí mora o problema.
As toxinas pouco a pouco correm pelas suas veias com mais presença. O que antes seria uma briguinha besta se transforma em uma catástrofe, com ambos se encontrando presos nesta distorcida situação de amor e ódio.
A paranoia de perder o pedaço do “paraíso” conturbado que ambos possuem começa a distorcer situações um tanto quanto simples, e vocês se perdem em mais brigas e ofensas, posteriormente racionalizando o porquê de tudo acontecer como aconteceu, para acharem uma solução para um sintoma, enquanto a doença continua correndo solta pelas artérias de pessoas que só estão frágeis de mais para isso agora.
As brigas aumentam enquanto o amor pelo outro, sendo substituído por uma obsessão de não perder quem sempre esteve lá por você, some como fumaça pela noite sem estrelas. Independentemente de ter sido boa ou não para você. O medo da solidão aleija o futuro de uma salvação para ambos.
Amor não machuca. Amor segura sua mão quando você está no fundo do poço e fica com você durante a dor das lágrimas, quando você está se sufocando na chuva. Amor é aquela última flama que lhe mantém vivo, te protegendo de ser devorado pelo frio ou queimado até a alma. Amor é aquela última vela acessa em um quarto que está escuro há anos. Amor é o que nos mantém vivos, é o ombro no final da tarde onde podemos nos afogar em lágrimas, seguros de que alguém vai nos proteger dos pecados do mundo.
Amar não é machucar, e esse texto é para as mulheres e homens que deveriam abrir os olhos, e enxergarem o quão incríveis são, independente do veneno que lhes é alimentado garganta abaixo. Busquem ajuda. Amor não é para doer e sim para nos fazer viver melhor, com o consolo e conforto de uma pessoa que nos apoia. Amar é a melhor virtude da alma falha do ser humano. Não se envergonhe, não sinta medo pois você merece melhor, todos nós merecemos amor.