O medo raiou no horizonte

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    Antes de mais nada, quero deixar bem claro: esquerda e direita são braços do mesmo corpo podre, atrofiado e injusto; escolha o lado desse Fla-Flu vermelho e azul que te convier, se quiser, pois aparentemente nós só sabemos nos polarizar, em vez de nos unir. Enfim, essa é só uma opinião.

    O leite já foi derramado, e verdade seja dita, com tanto caco de vidro espalhado na nossa mesa, chorar não é tão insensato quanto te dizem. Lamba suas feridas, mas agora sim “ninguém solta a mão de ninguém”, pois a verdade é que sim, o medo venceu. O pavor de andar pelas ruas sem saber se vai voltar, o medo de quebrarmos com nossas corrupções, de virarmos uma Venezuela… todo mundo ouviu um lado diferente, ouviu visões de pessoas com lentes escuras, enxergando o podre nos nossos cantos e decidindo que, para evitar um derrame de sangue, é melhor degolar o problema agora, a qualquer custo.

    É tão distorcido esse cenário, o “país cristão” pedindo sangue, pedindo morte, pedindo violência e aclamando tortura; e aqui reside meu medo. Pois no fim do dia, os políticos vão continuar socados em seus buracos de luxo, cegos para gente, mas os zumbis não. Eles querem carne, eles querem “fazer a limpa, pois gay no Brasil não” (uma das várias frases que li numa passada rápida por uma seção de comentários), e agora com a vitória de alguém que representa seus ódios, eu tenho medo dos ratos saírem do esgoto, vestidos de verde e amarelo, cegos pela raiva.

    Só uma mera curiosidade, nos E.U.A., um país que prega a liberdade acima de tudo e que ainda se encontra anos-luz à frente da gente em quesitos como educação, os crimes de ódio só vêm aumentando nos últimos quatro anos, com uma cidade na Califórnia tendo um aumento de 132% em comparação com 2016. No mesmo ano, os americanos se posicionaram em segundo em um ranking de mortes relacionadas às armas de fogo (37.200 vidas perdidas), perdendo só para nós, medalhistas de ouro com 43.000 vítimas.

    Esse texto já se esticou demais para explicar uma simples ideia minha: de que sua sede por sangue, só vai custar mais vidas. Você não quer uma arma para se defender, você quer é poder por o p*u na mesa e ter as coisas do seu jeito, intimidar que te contrariar, nossa ilustre geração de homens fracos escondidos atrás de gatilhos e telas de computador. Desculpa estourar sua bolha, mas não, o tráfico não vai acabar; nossos políticos ganham dinheiro demais com helicópteros de cocaína. A violência vai continuar e a corrupção também. Vocês só elegeram uma figura que espelha sua alma pútrida, patética e cega.

    Quiçá eu seja só um niilista perdido, e tomara mesmo que esse texto falhe miseravelmente em tudo que prevê, embora eu acredite que não. Sartre uma vez disse que “quando os ricos fazem guerra, são os pobres que morrem”, e eu sinto muito em dizer isso, mas eles não ligam para mim, para você ou para as famílias tradicionais que vocês tão veemente querem defender. Eles só não ligam.

    Leia o texto anterior: A GENTE SE IMPORTA MESMO?

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