Eu estava com fome um dia desses, voltando para casa (como já fiz várias vezes), decidi que ia parar e comer. Mal sabia o que eu iria ver. Nada tão raro quiçá até mundano, cena comum de se ver por aí quando andando. Mas esse menino que estava na porta, foi diferente e me rasgou a aorta, com braços e pernas dentro da camiseta, e o rosto perto de estar violeta, ele tremia e dizia: “eu não quero dinheiro, só um lanche sabia?”
As pessoas indo e vindo, passavam por ele e seguiam rindo, virando o rosto para nem o enxergar, pois o que o olho não vir a alma não vai cobrar. Me doeu o ver sendo invisível, tratado como desprezível, provavelmente por babacas com um infame discurso de “sou sensível”, usado para ganhar likes e pagar de estar acima em nível. Como me irritam esses falsos complacentes, com o ato de “good vibes” de adolescentes. As mentiras vos fazem se sentirem completos? Para mim vocês são só poços de desafetos, seguindo a mais última tendência, se encaixando no rebanho sem decência e consciência. Fui chegando na porta e ele me pediu o que eu já sabia: “eu não quero dinheiro, só um lanche sabia?”
Eu respondi “vou ver, sei nem se tenho dinheiro para comer”, entrei e fiquei lá pensando, que não ia voltar de mão abanando. Depois de mim mais entraram e saíram, e eu só me perguntava como eles ficariam, vivendo com essa solidão, no meio de milhões nesse mundo sem coração. Os ratos andam pela rua, de terno e saia dizendo que “a culpa é sua, é só arranjar um trabalho ou estudar”, mas não fazem nada para ajudar. Fim de fila e lanches peço três, pego tudo e saio de uma vez, e penso bem e vejo que nem estou com tanta fome assim, então lhe dou dois e o “obrigado, tio” mais sincero é dito para mim, “não era mesmo dinheiro que queria, só um lanche sabia?”
Ele levantou e sem tocar na comida, pôs tudo por dentro da roupa e sumiu pela avenida, encolhido na chuva foi rapidamente andando, talvez mais alguém com fome o tivesse esperando. Ou não e eu e você só perdemos tempo com esse texto, tentando incluir significado em algo sem contexto, mas caso venha a ser esse o caso, não me arrependo do que faço. Pelo menos tento algo fazer, pois assim minha mente não tem nada para me dizer. E o que eu espero? De você só que seja vero, consigo mesmo e com suas crenças, e que dê seu melhor por esse mundo de indiferenças. A gente se preocupa de verdade, ou tudo isso é só um ato para a sociedade? Que merda se for.