Em uma produção original da Turbilhão de Ideias e apresentação do Circuito Cultural Bradesco Seguros, a peça Simples Assim estreia dia 6 de setembro, no Teatro Frei Caneca.
Baseado na obra da cronista Martha Medeiros, o texto foi adaptado pela própria autora, ao lado de Rosane Lima. No elenco estão Julia Lemmertz, Georgiana Góes e Pedroca Monteiro, sob a direção de Ernesto Piccolo.
Sucesso de público e crítica no Rio de Janeiro, a peça é marcada por histórias entrelaçadas e apresenta figuras simultaneamente distópicas e reais, como um casal que apenas interage pelo celular, uma mulher que contrata uma dublê de si mesma e uma jovem que decide viajar para Marte e abandonar o amante.
Em todos os casos, há espaço para uma indagação: para onde foi a simplicidade do afeto tête-à-tête? O enredo traz reflexões sobre a roda da vida e os humanos em meio ao caos moderno, à solidão tecnológica, soterrados por informações e desencontros.
A comédia reflete sobre o cotidiano, com humor e afeto, como é usual na obra da escritora, uma das mais celebradas cronistas brasileiras. As duas coletâneas em que a peça se baseia reúnem cerca de 200 crônicas. Dessa pesquisa resultaram dez cenas, cada uma delas com duas ou três crônicas entrelaçadas. A livre adaptação do texto apresenta histórias entrecortadas que tratam das relações interpessoais no mundo contemporâneo, de um tempo acelerado e mediado por uma tecnologia invasiva e incontornável.
A estrutura do texto segue um modelo inspirado em A Ronda, clássico do austríaco Arthur Schnitzler, com cenas aparentemente independentes, mas com um personagem sempre se repetindo no quadro seguinte. Os atores se revezam em vários personagens, em dez cenas. Pela simplicidade e eficiência, Rosane Lima sempre foi encantada pela estrutura do texto austríaco “Eu também sabia que teríamos um elenco pequeno e um número razoável de personagens, situação que esse formato favorece. A Ronda foi escrita na virada do Século XX, um período de grandes transformações sociais, morais, etc., possibilitando uma analogia atraente com o momento atual. Na ciranda de Simples Assim não surgem apenas casais, como na peça de Schnitzler, mas também relações de irmãs, amigos, empregados, o que, além de ampliar o espectro de visão da peça, contempla a variedade e o alcance das crônicas da Martha.”
“Trazemos o espírito meio esquizofrênico desta época. A vida é difícil, mas a simplicidade salva. Corruptos existem, mas eles nada podem contra a morte. A tecnologia nos domina, mas o amor segue imperioso. Tudo se entrelaça. É um texto para rir e pensar sobre essa birutice toda”, comenta Martha Medeiros. “As cenas exploram detalhes dessas relações no cotidiano, procurando o que permanece de humano nos personagens em meio a tantas transformações. Montar a peça hoje é abrir um espaço de pensamento e, ao mesmo tempo, de prazer para os espectadores, desejando que eles possam rir e refletir sobre nossa linda e atribulada humanidade”, conclui.
Ernesto Piccolo considera Simples Assim a peça mais atual da escritora. “É a mais antropológica. Ela tem um lado muito humano e também traz lampejos sociais e políticos muito atuais, retrata o nosso desconforto com as coisas que estão acontecendo no mundo”.
Para Julia Lemmertz, a autora tem a capacidade de falar sobre coisas profundas de uma forma muito direta, conseguindo radiografar, através de suas crônicas, o caos dos dias atuais. “Está todo mundo muito conectado em redes, links, mas pouco conectado com a pessoa que está do seu lado, com o presencial, o aqui agora.
A peça vai colocando situações para que você reflita como é estar nesse mundo com essa quantidade de informação, de solicitações e como você se forma humano nisso. Como você permanece humano dentro de tanta demanda”, aponta.
Julia destaca ainda a universalidade e importância dos temas abordados no espetáculo. “É um momento de tantas coisas para se refletir. Ele se passa no Brasil, mas o mundo inteiro está assim. Estamos em uma convulsão geral, as pessoas estão em situação limite”, reflete.
Pedroca Monteiro acrescenta que o espetáculo olha para o agora e aponta que, apesar de tudo, é necessário continuar. “Não adianta ir para Marte, como decide uma das personagens. É preciso estimular as pessoas à mudança. Ao invés de viajar para outro planeta ou mesmo outro país, é fundamental ficar aqui e tentar transformar o nosso lugar”, conclui. “E a Martha consegue traduzir tudo de uma maneira popular, que se comunica com todos”, elogia Georgiana Góes.
O espetáculo propõe focar no que realmente importa, tenta alcançar a simplicidade, que é algo tão complexo e difícil. “É preciso buscar gente que converse e se escute, que se aproxime pelo afeto, pelo carinho, pela empatia, pelo interesse pela vida do outro. É trocar, ouvir e ser ouvido.”
Transposição para o palco
Uma das mais importantes escritoras brasileiras da atualidade, Martha Medeiros teve outras obras adaptadas para o teatro como Divã e Doidas e Santas, entre elas. É a primeira vez que ela assina também a versão do texto para o palco. “As peças foram adaptadas com liberdade total, com minha obra servindo como base, mas agora é diferente, não há uma releitura dos meus textos. Em Simples Assim, eles estão mais íntegros. Claro que há também a adaptação da craque Rosane Lima, mas o espírito da peça está mais sintonizado com o que escrevo nos jornais. Há um compromisso real com minhas ideias e meu espírito”, explica.
O projeto nasceu de uma ideia do produtor Gustavo Nunes, em 2016, após um encontro com Martha Medeiros, em Porto Alegre. A parceria entre os dois rendeu também o canal da escritora no YouTube, M de Martha, que estreou no ano passado e prepara uma série de novos episódios ainda este ano. Diretor de Doidas e Santas, Ernesto Piccolo já é familiarizado com o universo da escritora e foi uma escolha natural. Amigo de longa data de Julia Lemmertz, é a primeira vez que a dirige. “Sempre sonhei trabalhar com ela”, celebra.
Simples Assim
- Estreia dia 6 de setembro.
- Temporada: até 29 de setembro de 2019.
- Sextas 21h30 e sábados: 21h. Domingos: 18h.
Teatro Frei Caneca
- R. Frei Caneca, 569 – Consolação, Shopping Frei Caneca, São Paulo.
- Ingresso: R$ 100,00 e R$ 50,00 (meia) – (Sexta-feira). R$ 120,00 e R$ 60,00 (meia) – (Sábado e Domingo).
- Classificação: 12 anos.
- Duração: 80 minutos.
- Gênero: Comédia.
- Foto Divulgação: Victor Hugo Ceccato