São Paulo 11/10/2022 – Por devolver aquilo que seria descartado ao ciclo de produção, o modelo de economia circular reduz drasticamente a matéria-prima extraída da natureza
O caminho para avançar na economia circular não pode ser percorrido sozinho, é um trabalho colaborativo
A questão do descarte de resíduos é um problema que faz parte da responsabilidade ambiental, envolve o comportamento dos cidadãos, a ética dos empresários e detentores de meios de produção, e também as políticas públicas que visam estimular novos e positivos hábitos.
Um relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) afirma que um modelo de economia circular poderia reduzir os resíduos industriais em alguns setores de 80 a 99%, e as emissões de 79 a 99%.
“A geração de resíduos sólidos domésticos é algo crescente, que acompanha o aumento da população mundial e da cultura de consumo desenfreado. É mais do que mudar os hábitos de uma casa, mas sim, de toda uma sociedade, implementar a reciclagem. Apesar de ainda haver dúvidas sobre o que é reciclável ou não, já se percebe uma mudança comportamental nos consumidores”, salienta Vininha F. Carvalho, editora da Revista Ecotour News & Negócios (www.revistaecotour.news).
O Brasil gera aproximadamente mais de 82 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos ao ano, o que representa cerca de 390 kg por habitante, segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, relatório produzido pela Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Público e Resíduos Especiais), mas somente 4% desse volume é reciclado.
Em 2010, foi publicada a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei Federal nº 12.305/2010). Dez anos depois, foi publicado o Novo Marco Regulatório do Saneamento (Lei Federal 14.026/2020), instituindo novos padrões de qualidade e eficiência na prestação, na manutenção e na operação dos sistemas de saneamento básico, além da regulação tarifária e operacional dos serviços públicos voltados ao tema.
De acordo com Índice de Sustentabilidade Urbana (ISLU), a gestão do lixo não avançou no país e 58% dos municípios brasileiros ainda não possuem modelo de arrecadação específica. O estudo analisou a realidade de 3.572 municípios em todo o país, revelando que 50% deles ainda descarta seu lixo de forma ambientalmente inadequada. A cobertura da coleta porta a porta se manteve na casa dos 76%, com um quarto da população sem acesso aos serviços.
De acordo com a projeção realizada pelo ISLU, se não houver mudanças na gestão dos resíduos sólidos, o Brasil dificilmente alcançará as metas de redução de impacto ambiental e de reciclagem estabelecidas pela ONU, Organização das Nações Unidas. A análise levou em consideração o ritmo de progresso dos últimos anos.
A região Sul é a que apresenta pontuação mais alta no ISLU, com média de 0,545 e índice de reciclagem de 7,2%, o melhor do país. O Sul também se destaca pelo total de municípios que já aplicam algum modelo de cobrança, o equivalente a 83,5%. No entanto, ao observar os resultados do Nordeste, a lógica se inverte, com a média mais baixa do país, de 0,351, e pior índice de reciclagem, de 0,30%, apenas 7,6% das cidades da região possui cobrança específica e apenas 13,3% fazem a destinação adequada do lixo.
Segundo Vininha F. Carvalho, a economia circular baseia-se realmente em três princípios simples: eliminação de resíduos e poluição, manutenção de produtos e materiais em uso, e a regeneração dos sistemas naturais.
Esse conceito possui também três aspectos didáticos conhecidos como 3R:
– Reduzir: uso mínimo de matérias-primas
– Reutilização: aproveitamento máximo de produtos e componentes
– Reciclagem: reutilização de alta qualidade de matérias-primas
Por devolver aquilo que seria descartado ao ciclo de produção, o modelo de economia circular reduz drasticamente a matéria-prima extraída da natureza, além de diminuir o acúmulo de lixo. “Ao utilizar menos recursos, você também reduz a necessidade de transportar esses materiais, o que diminui a pegada de carbono da produção, uma vez que a maioria dos transportes ainda depende de combustíveis derivados do petróleo”, explica Edson Grandisoli, pesquisador do programa Cidades Globais, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP), em entrevista à National Geographic.
“Em um mundo que produz cada vez mais lixo, o seu descarte correto e aproveitamento pode trazer uma série de benefícios para a sociedade transformando um ônus em bônus. Se todos fizerem sua parte, os números da reciclagem no Brasil irão subir e, em breve, a expressão reciclável será valorizada e fortalecida pelo reciclado, baseado no sistema de economia circular e logística reversa”, finaliza Vininha F. Carvalho.
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