Cantor e compositor mineiro apresenta suas canções confessionais e reflexivas em um álbum coeso e intenso
“Aperte o cinto vamos decolar, quem sabe o vento toca a gente para um outro lugar”. Esse é um convite para entrar no som e escapar das durezas do mundo com o álbum “Sentado no Céu”, do cantor e compositor mineiro Nathan Itaborahy. Nesse primeiro registro solo o artista apresenta em doze canções inéditas e autorais, algumas em parceria, um pouco do seu universo confessional e sua trajetória em 20 anos na música.
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As primeiras canções de “Sentado no Céu”, que chegaram as plataformas digitais em 2 de julho, via distribuidora Tratore, nasceram no oitavo andar do apartamento de Nathan Itaborahy, em Juiz de Fora, MG, quando o artista voltou a morar na cidade, assassinou sua carteira assinada e passou a viver de música. Antes, chegou a fazer faculdade e mestrado de Geografia, em Belo Horizonte, e trabalhou na pesquisa com agroecologia e extensão rural em comunidades quilombolas na Zona da Mata de Minas Gerais. Mas foi quando largou o mundo acadêmico, para trabalhar com música e arte, que encontrou o prazer criativo na escrita e começou a escrever poemas, contos e músicas. Nessa época, publicou seu primeiro livro de poesias, “Devaneios Necessários”, e redescobriu Gilberto Gil (seu grande mestre e inspiração), Caetano Veloso, Chico Buarque e Milton Nascimento.
O cantautor, como Nathan gosta de se apresentar, coleciona mais de 70 composições, sendo que dessas, 28 já foram gravadas por outros artistas e bandas. Ele explica que suas músicas tocam em algumas questões existenciais, políticas e éticas que atravessaram sua vida em algum momento. “É uma poesia bem confessional e autobiográfica. Mas cada música tem sua própria inspiração, sua inquietação”, diz.
“Sentado no Céu”, que dá nome ao disco, foi a primeira composição deste trabalho. É uma vinheta, bem despretensiosa, e funciona como um prólogo. Nos seus poucos versos ela fala sobre essa coisa de viver no apartamento, da sensação urbana de estar vivendo na altura, apartado e assistir o mundo moendo lá embaixo. “Penso muito sobre tudo que implica nas nossas relações essa coisa de viver na cidade e nos apartamentos, essas pequenas caixinhas suspensas, que nos aproximam e nos afastam. Por vezes me senti assim, ‘sentado no céu’, como se tivesse aqui totalmente descompromissado com a certeza do movimento da cidade lá embaixo”, explica o artista.
O disco evoca, primeiro, essa condição da “altitude” da vida nos prédios. Nathan, que é geminiano, signo que tem o ar como elemento, revela que várias das músicas do disco tocam nesse tema do vento, do pensar e da suspenção. “Hey Tu” (parceria com Tiago Teixeira), traz o sabor da criação, do tentar, se jogar, caçar, a disposição e o comichão da arte; “Vivo Vento”, relata o começo da jornada musical, com um discurso libertário e como se a música também estivesse vulnerável aos tantos caminhos da vida, aos ventos inesperados. É a única canção que já foi gravada antes. “Pessoas”, (parceria com Fred Fonseca), nasceu de um haikai do livro “Devaneios Necessários”, de Nathan. É uma vinheta curta que carrega o espanto com nós mesmos, pessoas e seus esconderijos tão estratégicos. É uma faixa sem instrumentos de harmonia, totalmente experimental.
Outro destaque do repertório é “Macaco Véio” (parceria de Nathan com Rogério Arantes), primeiro single desse álbum e lançado junto com o clipe, que foi gravado de maneira colaborativa, com imagens enviadas por 38 pessoas em suas casas na quarentena. A canção fala sobre o nosso lado louco, nosso alter ego descabido na figura do macaco; as feras que nos habitam e que vivem brigando com o nosso lado disciplinado e aplicado. Por tudo isso, é a música mais rock’n’roll do disco.
Assista ao clipe
Recentemente, Nathan lançou dois singles desse trabalho. “Solta”, primeiro respiro do álbum, nasceu para trazer paz em um momento de tormenta pós eleição de 2018. A música, lançada no dia 12 de junho, contou com a participação especial da namorada e companheira de Nathan, a cantora Clara Castro.
O disco também conta com a canção “Amo Ana ano afora”, uma declaração paraClara Castro, que fala de como o amor leva a uma certa suspensão do tempo, como faz embolar nossos sensos e sensações.
“Encontro Casual”, o single mais recente, lançado em 19/6, é outra parceria com Rogério Arantes, poeta e amigo. A faixa tem uma força no groove, tônica que perpassa o álbum. A canção surgiu de um poema, uma espécie de microcena urbana que descrevia uma situação contemporânea e casual.