Guarulhos, SP 25/11/2022 – A insuficiência cardíaca não leva à DPOC, mas a DPOC pode levar à insuficiência cardíaca.
DPOC e Insuficiência Cardíaca podem ocorrer simultaneamente – e agravar os sintomas da outra. Médicos especialistas trazem orientações para controlar a falta de ar e reduzir o risco de consequências sérias, como infarto.
As condições respiratórias estão entre as dez maiores causas de morte no mundo. Uma delas ocupa o terceiro lugar: é a doença pulmonar obstrutiva crônica, ou DPOC. Ela aparece quando o enfisema pulmonar (um quadro degenerativo que se desenvolve após a agressão prolongada aos tecidos pulmonares) e a bronquite crônica coexistem no mesmo pulmão, obstruindo as vias aéreas e tornando a respiração difícil. Infelizmente, a DPOC é especialmente perigosa se o paciente tiver doenças cardiovasculares associadas.
A DPOC e a insuficiência cardíaca, por exemplo, podem acontecer ao mesmo tempo, sem estarem necessariamente relacionadas. Nesse caso, a dificuldade respiratória ocorre simultaneamente à redução de bombeamento de sangue que caracteriza a insuficiência cardíaca.
O problema é que uma situação agrava a outra. Enquanto esse problema no coração intensifica os sintomas respiratórios, “a DPOC pode piorar a insuficiência cardíaca por causa da hiperinsuflação pulmonar”, afirma a pneumologista Rosemeri Maurici, da Comissão de DPOC da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).
A hiperinsuflação pulmonar ocorre quando o paciente tem dificuldade para expirar o ar para fora do corpo. “O ar se acumula no pulmão, o que causa aumento dos volumes pulmonares. Isso acaba comprimindo o coração e dificultando ainda mais a função cardíaca, já comprometida pela insuficiência”, explica a médica.
A DPOC, por sua vez, deflagra uma queda do nível de oxigênio no sangue, o que prejudica o trabalho correto do coração. Essa redução da oxigenação sanguínea é um dos fatores que sobrecarrega o músculo cardíaco e torna infartos mais comuns em pacientes com DPOC.
E há uma curiosidade aqui: o lado do coração acometido pela insuficiência cardíaca guarda relação com a DPOC. Quando o problema atinge o lado direito do músculo cardíaco, não raro é uma consequência do problema pulmonar. Já quando surge na esquerda ou mesmo de forma global, não.
“A insuficiência cardíaca não leva à DPOC, mas a DPOC pode levar à insuficiência cardíaca”, resume a pneumologista.
Como diferenciar os sintomas de DPOC e Insuficiência Cardíaca
Tanto a insuficiência cardíaca quanto a DPOC dificultam a respiração. Por esse motivo, a dispneia (falta de ar) é um sintoma em comum. “Às vezes, é difícil distinguir esses quadros só com a anamnese e o exame físico”, reconhece Maurici. “São necessários exames complementares, que avaliem tanto a parte respiratória quanto cardiovascular”, arremata.
Uma falta de ar progressiva, que no começo aparece só depois de grandes esforços físicos, mas que, com o tempo, surge a qualquer movimentação mais leve, é o sinal mais evidente da DPOC. O quadro também vem acompanhado de tosse e expectoração e possui momentos de exacerbação – ou crises –, em que os sintomas se agravam rapidamente e exigem cuidados.
A insuficiência cardíaca também leva a uma falta de ar que ocorre em crises, mas não é necessariamente progressiva – ela pode começar gerando dispneia em esforços mínimos. O problema cardiovascular ainda provoca inchaço de membros inferiores, como pernas e pés.
O diagnóstico da DPOC é feito por espirometria, uma prova de função pulmonar. “O paciente fica sentado e realiza algumas manobras de soprar dentro de um aparelho que mede as capacidades pulmonares”, detalha a médica. O método inclusive determina a gravidade da situação.
Tratamento
Indivíduos com DPOC e insuficiência cardíaca correm maior risco de morte – o que denota a importância do tratamento. E os remédios para DPOC frequentemente podem ser usados também em quem manifesta a doença cardiovascular.
“As duas condições devem ser tratadas simultaneamente para que uma não piore a outra”, esclarece Maurici. “Quanto antes é iniciado o tratamento, o controle da pressão arterial e o abandono do tabagismo, menor é a repercussão no pulmão e no coração”, complementa.
Além da medicação, existe a terapia não-farmacológica, que abrange vacinas para evitar infecções e exacerbações da doença, alimentação adequada, abandono do hábito de fumar, controle dos níveis de ansiedade e depressão e reabilitação cardiopulmonar com fisioterapia. Se houver uma queda de oxigenação intensa, deve ser usada a oxigenoterapia domiciliar.
Possíveis causas
O tabagismo é um fator de risco comum entre insuficiência cardíaca e DPOC. “O cigarro compromete a função de outros órgãos que não só o pulmão, e o coração é um deles”, corrobora Maurici.
A DPOC é causada pela exposição contínua a partículas nocivas no ambiente, como as oriundas da queima do tabaco, de biomassa (fornos à lenha, por exemplo) e da poluição. O fumo passivo também está entre as causas – e já começa a exercer seu papel na infância. “As doenças pulmonares crônicas têm maior incidência em filhos de pais fumantes”, diz a pneumologista.
Já a insuficiência cardíaca pode ser deflagrada, além do fumo, por hipertensão não tratada e índices elevados de triglicerídeos e colesterol, entre outros motivos.
“Tanto a DPOC quanto a insuficiência cardíaca são mais comuns em idosos, mas podem surgir em adultos mais jovens”, explica Rosemeri.
Sobre a CDD
A associação Crônicos do Dia a Dia (CDD) é uma organização sem fins lucrativos e acredita que o diálogo é a ponte para que ninguém precise conviver com uma doença crônica sozinho. O objetivo do trabalho da CDD é apoiar todo o potencial humano para ampliar as perspectivas de vida das pessoas com condição crônica de doença, através de projetos e conteúdos, para que as pessoas não sejam definidas nem reduzidas a seus diagnósticos. Desenvolve desde 2019 a campanha para conscientização da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) que, em 2022, conta com o investimento social das farmacêuticas GSK e Boehringer Ingelheim.
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