Eu quero começar esse texto dizendo que, não é o objetivo deste, falar sobre a minha opinião em relação à moralidade do aborto, se é certo ou não, pois graças a diversas mentes fechadas à opinião contrárias das suas, nós vivemos em uma sociedade em que a sua opinião poder ser, por simplesmente ser, crucificada (junto com você). Esse texto é para falar que os homens já abortam, e eu acredito que as mulheres deveriam poder escolher o que podem ou não fazer com seu corpo. Mas falemos de fatos.
A cada dois dias, uma mulher morre por causa de abortos clandestinos, estes chegando a mais de 1 milhão de casos por ano, e isso tudo só no Brasil; pois quando olhamos para o mundo, os fatos são ainda mais frustrantes e assustadores. Cerca de 20 milhões de abortos são realizados ilegalmente e sem as devidas precauções para a segurança da mulher, resultando em 70 mil vidas perdidas todos os anos.
“Ah, mas isso é culpa das mulheres. Quem mandou abortar? Não foi bom na hora de fazer?”. É mesmo? Pois saiba 97% dos abortos ilegais ocorrem em países em desenvolvimento, com 80% dos de “primeiro mundo” legalizando o procedimento; e o Estado não tem nada a ver com isso? A Organização Mundial de Saúde já publicou que o número de procedimentos não aumenta em países que o legalizam, pelo contrário, caem; e nisso podemos tomar Portugal como exemplo.
Fatos, fatos, fatos e fatos e? O que podemos perceber com essa brevíssima olhada superficial sobre um assunto tão complexo? A culpa não é das mulheres, mas sim da falta de empatia, compaixão e a condenação da gestante que segue. A culpa está no estigma que mantemos vivo em relação a esse e tantos outros assuntos. A culpa é nossa, da sociedade que tem só 10% de seu Congresso representado por mulheres. A culpa está num mundo que se recusa a parar de punir quem nos dá a vida.
Nós somos uma sociedade com mais de 1 milhão de mães solteiras, que continua propagando essa misoginia doentia, que continua fechando os olhos para os homens que já abortam, que simplesmente abandonam a criança que é tão dele quanto da mãe. Os homens podem fugir, os homens podem fechar a porta na cara dos filhos e fingirem que eles não existem, afinal, não é do saco deles que sai a criança. 5 milhões não têm nem o nome do pai na certidão, e vocês querem realmente continuar focando nas mulheres?
Eu estou cansado do tapinha nas costas dos homens que abandonam, do “é né, isso não se faz, poxa”, e da crucificação da mulher. Cansado do discurso de “proteger as crianças” e aplaudir tragédias como a Chacina da Candelária. Me dá nojo o “cidadão de bem” que prega a proteção dos bebês, e a morte das nossas crianças-soldado do tráfico de drogas, que muitos desses “de bem”, consomem. Está tudo errado com esse mundo, mas ei, continue pregando suas mentiras, uma, duas, três vezes… Quem sabe na 17ª tentativa, você sacie sua hipocrisia.