Adquirida pelo líder religioso Edir Macedo no início dos anos 90, a RecordTV, antiga Rede Record, começou a crescer ainda naquela década, expandindo sua cobertura para outros estados além do eixo Rio-SP. Com Ana Maria Braga, Ratinho e Gilberto Barros em seu elenco, o canal foi dando largos passos em busca da audiência, tornando-se em pouco tempo a terceira maior emissora do país, posto da TV Bandeirantes por alguns anos.
Nos anos 2000, em um arrojado e ambicioso plano de liderança, a emissora investiu pesado, tirando o precioso segundo lugar do SBT que vinha em decadência após uma fase histórica em 2001. Contratações de peso, construção de novos estúdios, investimentos em teledramaturgia e jornalismo, tudo para se tornar uma “nova Globo”, direcionando para uma linguagem mais popular.
Entre realities, novelas e programas de auditório, vários deram a nova cara da emissora. Até mesmo o desenho animado “Pica Pau”, primeiro do segmento a ser exibido na história da televisão brasileira em 1950, se tornou um dos carros-chefe da casa. Os números eram espetaculares e realmente parecia que o “A caminho da liderança” iria vingar. Mas só ficou na aparência. A arrogância dominou cada passo dado a partir daquele bom momento.
Pouco a pouco, a grade que tinha uma alta diversidade de conteúdo e que chegou a ser a emissora que mais dedicava tempo à programação ao vivo e local para afiliadas, foi decaindo. Investimentos frustrados e péssimos resultados deslumbraram o sonho do primeiro lugar no país. A partir daí, a qualidade de conteúdo foi deixada em segundo plano e deu lugar ao Ibope fácil, com qualidade duvidosa e de péssimo gosto.
Antigos programas, como “Tudo é Possível”, “Show do Tom”, “O Melhor do Brasil” e até mesmo novelas bem sucedidas deram lugar a atrações deprimentes, como “Domingo Show”, “Hora do Faro” e o já desgastado nicho de novelas bíblicas “Apocalipse” e “Jesus”. A emissora, segundo jornalistas da área, já deu a entender que não pretende mudar isso. A dramaturgia que chegou a ser comparada com a do antigo Projac, hoje se resume a uma espécie de pregação em pleno horário nobre. Seus autores hoje não possuem mais liberdade para a construção das histórias, sempre com intervenções religiosas daquela que controla e é responsável por boa parte da saúde financeira da emissora.
Hoje, da Record de tempos de ouro, restou apenas o reality “A Fazenda”. Todos os demais produtos ou pendem a um jornalismo pouco atrativo e muitas vezes repetitivo ou ao velho assistencialismo. Se fôssemos definir a emissora por alguma identidade com o público, como a Globo tem com as donas de casa pelas novelas e o SBT com público infantil pelas suas produções, a da Record seria uma: indefinida.